quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Paradoxo?

Não fazer parte do cenário, não sair na foto, não ir nas viagens, nos passeios, nos almoços de domingo, não brigar mais, não fazer cara feia. Tudo isso "compensado" por alguns telefonemas durante a semana e separado por uma ponte aérea. Nada disso faz parte da minha realidade. Me parte o coração ver a vida de pessoas tão importantes sem poder tocar, como uma telespectadora que lastima não poder participar da vida dos personagens principais e que suplica cada migalha de atenção como uma fã desesperada pede autógrafos e abraços. Fingindo pra quem ainda fazer parte de qualquer que seja o núcleo dessa história?  As relações foram dopadas, neutralizadas, e a essa altura do campeonato estão em coma irreversível, tantas metáforas e expressões pra definir me dão a certeza de que algo, de fato, não está indo bem. Aprendi, num tempo distante, onde tudo era fantasia e rosto pintado de tinta guache,  que essas relações seriam minha âncora, iriam sempre me acompanhar aonde eu fosse, mas hoje a realidade é bem mais dura. Não existe drama nisso, às vezes gosto de pensar que é a ordem natural das coisas, a gente cresce e acaba deixando muitas coisas de lado, mas de repente algo me puxa pra realidade e eu descubro que não cresci tanto assim, e ainda que estivesse tão crescida, porque eu haveria de deixar tudo isso de lado? Veja bem, não se trata de bonecas, não estou deixando de lado as pelúcias que tanto amava aos 7 anos de idade. Aliás, sou eu tô deixando alguma coisa de lado aqui? É impossível não sentir o paradoxo quando olho pra dentro da questão, o desgaste de nadar contra a corrente e a dor na alma depois de todo esse exercício em vão. Perceber que qualquer solução não é solução, assusta. Assusta estar sozinha. Algumas coisas apenas não podem ser restauradas, mas algumas outras simplesmente não poderiam ser deixadas de lado.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Exército de um só.

Eu conheci um menino guerreiro. Não carregava armas, nem mobilizava tropas. Trazia consigo apenas muita vontade, amor e um olhar que eu poderia jurar que era quase de tristeza. Lutava bravamente pelo seu tesouro, tudo fazia para proteger o que lhe era de mais valioso. Às vezes fraquejava, às vezes caía em pranto, mas como todo verdadeiro guerreiro, erguia a cabeça e ia em busca de seu objetivo mais uma vez. Uma luta diária, sofria calado muitas vezes, aprendeu a se virar sozinho na selva de pedra que a vida lhe impôs, mas a doçura no tom de voz permanecia.  Lhe passara pela cabeça a ideia de desistir, mas, por uma graça divina, voltara atrás. Tudo que lhe diziam eram palavras genéricas, e as entendia como elas realmente deveriam ser entendidas, como nada, por que era isso que elas eram, nada. Se perdia em quanto tinha de menino e quanto tinha de guerreiro. Duvidava ainda ter resquícios de menino quando se lembrava do sangue nos olhos, que se tornara corriqueiro em sua personalidade, desde quando a responsabilidade ficou maior que seus braços podiam abraçar. E, duvidava do guerreiro, quando seu coração não suportava mais feridas e seu corpo não se sustentava mais devido a pressão. Apesar de toda a confusão mental, de todo sofrimento, carregava nele, algo que só os vencedores, só os bem intencionados e com um propósito verdadeiramente sublime possuem, tinha a alma pura. Em algum lugar, mesmo que lá no fundo do seu coração cascudo, sabia que tudo haveria de se ajeitar da melhor forma, no passo certo de ser. E nessa de ser guerreiro e menino, oscilava entre desabrochar meu amor e me envolver numa fortaleza de escudos. De tudo que me havia ensinado, não desistir foi a melhor lição, não desistir é a maior prova de seu amor incondicional, é aí que é possível ver o quanto de coração e razão depositamos em alguém, o quanto estamos dispostos a nos doar. Menino. Guerreiro. Menino ou Guerreiro? Menino e guerreiro numa só forma, numa só razão, mas acima de tudo, em um só coração.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A culpa é de quem?

Eu, geralmente, estou carregada de sentimentos intensos, costumo escrever sobre o abstrato. Hoje não. Hoje eu vim falar de coisa feia. Na verdade, eu não sei nem começar. Pra quem não me conhece, além dos dados que estão no meu perfil, eu curso Relações Internacionais, e deveria estar dando pulos de alegria pelo Brasil estar recebendo esses eventos esportivos tão grandes aqui, certo? Errado. Antes de querer ser diplomata, sou cidadã, e como cidadã não consigo atribuir credibilidade à um país que prioriza eventos esportivos de porte insustentável e deixa a saúde, educação e segurança pública na geladeira. Daí, você vai dizer "mas Victória, vai ficar tudo lindo quando esse povo de fora chegar.". Vai, vai sim, amigo. Claro que vai. Estamos dando uma festa em nossa casa e vamos receber os convidados mal e porcamente? Claro que não. A arte de embromar nós dominamos. O Brasil é o primo pobre que só usa roupa de marca, porque ganhou as que já não serviam no primo rico. Mas me diz: quando a festa acabar e os convidados saírem de pança cheia, quem vai ter que arrumar e lidar com as consequências de toda essa bagunça, hein? É, amigo, eu, você e quem mais morar nessa casa. As pessoas vêem com olhos fantasiosos a vinda dos jogos pra cá, e de fato não dá pra dizer que é de todo mal, mas pensem nos bilhões que, supostamente, estão direcionados à obras faraônicas para reforma de estádios e semelhantes, e que poderiam estar indo para merenda  escolar (visto que muitas crianças do país só se alimentam na escola.), reformando hospitais e escolas, viabilizando projetos sociais que auxiliam pessoas carentes do básico. Hoje depender do público, é tiro no pé, as filas nos postos de saúde são quilométricas, nossa gente ainda morre de Dengue, não tem remédio pra todo mundo, não tem médico pra todo mundo, não tem nem leito pra todo mundo. Não tem professor, não tem material escolar, muitas vezes não tem mais carteira para os alunos se sentarem.Não tem segurança, as ruas estão tomadas de insegurança, e a juventude das camadas mais baixas está, em grande parte, marginalizada. Não tem salário digno pra quem cuida do nosso povo. Não tem educação de qualidade pra quem vai ser o futuro da nossa nação. Não temos nada e isso se torna desculpa para aceitarmos e nos contentamos com qualquer "bolsa cala a boca e mama nas tetas da vaca magra", porque as vacas gordas é você quem alimenta, ou você acha que é porque os impostos que você paga não são o suficiente pra manter as coisas funcionando com dignidade que elas estão estão em situação deplorável? Somos o segundo povo que mais paga imposto no mundo, mais os nossos são os mais altos. E eu fico aqui, amigo, num dilema eterno. Me perguntando todos os dias, de quem é a culpa disso tudo. É do povo?  É do governo? Sempre caio na mesma resposta: enquanto o governo não for pelo povo, e o povo for pelo governo, vamos viver pra sempre nessa falsa democracia de merda que nos ensina a obedecer e engolir calados.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quando reconsiderar vira pretexto pra tomar um dramin.

A gente troca tantas promessas, sabe? É que as vezes eu tenho medo que a vida não nos deixe cumpri-las. É tão idiota assim da minha parte que algo aqui dentro acione uma dor sem fim toda vez que o assunto "reconsiderar o passado por mais doloroso e sem escrúpulos que ele tenha sido." entre em questão? Que essa dor abra uma buraco onde cabem dois Jô's Soares com boias de braço?  Dói tanto, tanto, cogitar que o passado pode estar mais presente do que podemos admitir. Dói. Minha cabeça gira, paro de escrever por alguns minutos. Eu só escrevo quando estou muito fodida, ou muito feliz. E pelo começo desse texto, acho que você já entendeu como me sinto agora. É, meu estômago tá comprimido e embrulhado. Tem coisas que não podemos varrer pra debaixo do tapete, sobretudo quando nós somos o tapete. E não tem nada que faça passar, só a certeza, e certeza na terra de quem ama alguém é algo que se tem, sim, mas ninguém acredita, é tão contraditório e tão verdade ao mesmo tempo. Sua cabeça não fica em paz, e você pode jurar que tem alguém cozinhando seu cérebro com batatas, mas você simplesmente não consegue se desligar. Ninguém vai entender, nem você vai entender do que eu tô falando, mas não faz mal, agora meu surto já está sob controle, e eu tô pensando no próximo texto, o que eu deixei inacabado quando essas idéias insuportáveis tomaram a minha mente. Penso demais, sinto demais, meu bem, meu mal, eu não sei. Caminhando contigo, vou recuperando minha paz, nas tuas palavras doces e no teu toque suave, quase me fazendo carinho. Repito pra mim: fecha os olhos, bem apertados, e respira fundo, que passa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Preto e branco, sépia e colorido.

Com a cabeça enfiada debaixo do travesseiro, passava horas maquinando se quando não fosse mais a novidade da vida dele, as coisas ainda seriam tão boas quanto eram no momento. Se ele ainda sorriria torto pra ela a cada besteira que dissesse, se ainda fingiria não notar a irritação em seu tom de voz por ele ter que desligar o telefone, e  mais todas essas coisas das quais são feitos os começos. Uma insegurança do dedo do pé até o último fio de cabelo a tomava e a deixava quase a beira de uma crise existencial. Não suportaria uma nova tentativa frustrada. Não com ele. Pensava. Mas a gente sempre aguenta, moça, o tempo mostra. Não era só confusão, era  medo também,  medo e confusão, fazendo um drink que de vez em quando lhe caia mal. Certas horas ela o entendia tão bem que podia ler seu rosto como quem lê um poema de rima fácil, já em outras, seus olhos marejavam, aflitos, temendo o que ele realmente sentia. E o medo sempre lhe golpeava o estômago, um soco certeiro na terra das incertezas. Temia tantas coisas, dentre elas que parecesse tola e estupida, coração de maria mole e pouco descolada perto de todas as jovens que pela vida daquele jovem passaram. Certamente não seria a melhor, a mais bela, nem mesmo a mais inteligente, mas seria a que mais lhe daria amor, a que mais desejaria a companhia dele mais que qualquer outra companhia no universo. E guardava as fotos deles dois como fragmentos de seu próprio coração, hora em preto e branco, hora em sépia e na maior parte das vezes bem coloridas. Num ritual bobo, observava uma por uma e podia ouvir, bem baixinho, uma música vindo de dentro dela, de seu peito, da caixinha de música em que se transforma nosso coração quando amamos muito alguém. Não tinha letra, a melodia falava por si só. Aquietando um pouco seu coração. Mas não sossegaria enquanto a luzinha do celular não piscasse azul, azul era a cor dele. Era dele, e tantas outras coisas que ela também amava. Balançava os pés bagunçando o lençol maior que o colchão. Não poderia fazer muito mais que isso, já que estava à duas horas de viagem de quem tanto amava. E cada segundo era uma guerra meio perdida por não tê-lo ao lado, e meio vencida por estar mais perto de poder vê-lo novamente. E assim passou o resto do dia, com o travesseiro na nuca e cara afundada na cama, em sua montanha russa particular, que se chamava sentir.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Esse sim é um texto sobre amor. Sobre o nosso amor.

Eu tentava me enxergar por dentro. Queria saber o que era aquele sentimento que parecia uma pipoca saltitante dentro do meu peito. Quando ele sorria, me derretia que nem manteiga. E quando me olhava sério, meu coração, já bem desgastado, me fazia pensar duas vezes sobre os prós e contras daquilo tudo. Tentei negar, quis que não fosse verdade e me peguei fingindo que tinha preguiça de recomeçar. Cada dia, uma surpresa. Cada encontro, mais e mais sentimento. Então fiz um jarro dentro do peito e decidi que ali guardaria tudo o que aquele menino era capaz de me fazer sentir. E, no meu jarro, fui acumulando sentimentos, bons sentimentos. Deitada na cama, olhava pro teto e pensava que nada mais importaria desde que eu tivesse meus pensamentos e meu jarro comigo. Era estabelecida uma conexão, meu mundo e o mundo do meu amor. Opa, amor? Quem falou 'amor' aqui? Ah, amor. Aquele amor? Não! ESSE amor. O meu amor. O meu, não. O que que eu tô dizendo? Amor também é verbo e não se conjuga sozinho, amor só cabe em nós. Não nós cegos, por que amor é laço, nó é sentimento de posse, nó é a erva daninha do amor. E assim, vendo meu jarro transbordar, descobri que quem transbordava era eu, transbordava de amor.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Esse não é um texto de amor.

Sabe quanto tempo tem? Nem eu. Eu parei de contar. Por que mesmo sabendo que não havia lhe feito nada de mau, eu ainda assim me importava e por isso, durante um tempo eu contava quanto tempo tinha. Nessa minha conta, me perdi. Nos perdemos, amigo. Hoje somos tão diferentes do que éramos naquela época, e tão iguais por outro lado. Nenhuma promessa foi quebrada, meu amigo, e àquela altura, me perguntava como você pôde não notar isso. O que mais me doía (sim, doía.) era justamente o fato de você não me conhecer como eu achava que conhecia, minhas conclusões e projeções infantis sempre me enganando, e era tudo culpa minha. Era muita sintonia, algo havia de dar errado, era zelo, era consideração. Era. Talvez, se um dia te reencontrar, numa esquina, num bar ou na fila do supermercado, eu faça que sim com a cabeça, e você me olhe com aquele olhar indiferente, ignorando todas as risadas e todos os segredos que compartilhamos durante aquele tempo. Hoje te vejo tão crescido, mas o mesmo babaca de sempre, o que um dia foi o meu babaca favorito, como um irmão. Vejo nossas vidas seguindo mais próximas que quando nos importávamos um com o outro, mas ainda assim um abismo entre elas, um abismo que eu não posso ignorar. Foi melhor assim. E hoje tudo que sei é que não somos nada um pro outro. E se você  fosse alguma coisa, você seria a minha ex-decepção.